Escorpiões são aracnídeos da ordem Scorpiones que habitam nosso planeta cerca de 400 milhões de anos. Atualmente, existem ao redor de 1.600 espécies de escorpiões, porém somente 25 delas podem causar acidentes escorpiônicos (envenenamento por picada de escorpião). Isso representa aproximadamente 1,5% da diversidade mundial do grupo, portanto apenas um pequeno número de escorpiões causa prejuízo à saúde humana.

De modo geral, o corpo dos escorpiões é separado em duas regiões: o prosoma (cefalotórax) e o opistosoma (abdome). O prosoma é coberto dorsalmente por uma carapaça. Parcialmente abaixo dessa carapaça, posiciona-se um par de quelícera responsável por rasgar e dilacerar a presa. Acima da carapaça existem 5 pares de olhos. O primeiro par, grande e primitivo, possui capacidade de percepção da presença ou ausência da luz. Os demais pares provavelmente regulam o relógio biológico do animal. Além disso, na região do prosoma há 4 pares de patas e um par de pedipalpos. Estes servem para capturar, conter e esmagar a presa, além disso, podem dar proteção contra um predador. Já o opistosoma é composto pelo mesosoma (pré-abdome) e metasoma (pós-abdome). O mesosoma apresenta dorsalmente 7 segmentos (Tergitos) e ventralmente 5 segmentos (Esternitos). Por sua vez, o metasoma erroneamente denominado de cauda, possuí 5 segmentos arredondados e o Telson. O Telson é composto de uma vesícula com duas glândulas de veneno e um ferrão (aguilhão) que serve para inocular o veneno na presa.

O veneno do escorpião, cuja principal função é imobilizar um animal e, secundariamente, auxiliar na defesa contra um predador, contém um complexo químico composto principalmente de neurotoxinas que agem no sistema nervoso e causam dor e aumento da pulsação cardíaca. Em alguns casos, a toxicidade desse veneno pode ser comparada com o volume dos pedipalpos, ou seja, quanto mais robusto os pedipalpos do animal, menos poderoso é o seu veneno e vice-versa.

No Brasil, os escorpiões de importância médica pertencem ao gênero Tityus, que é o mais abundante em espécies, representando cerca de 60% da fauna escorpiônica neotropical. Do ponto de vista da saúde pública, existem 5 espécies principais que podem acarretar um sério prejuízo ao homem.

A espécie Tityus serrulatus é a mais importante devido a potência do seu veneno e a abundância de indivíduos no ambiente urbano, já que esse escorpião se reproduz por partenogênese (sem presença de um macho). Esse animal, popularmente chamado de escorpião-amarelo, mede aproximadamente de 6 a 7 cm e possui coloração marrom, porém com pedipalpos, patas e cauda amarelada. Além disso, os dois último segmentos do metasoma apresentam uma serrilha dorsal e, ventralmente, uma mancha escura. A espécie Tityus bahiensis mede também cerca de 6 a 7 cm e possui coloração do corpo e do metasoma marrom. Também conhecido como escorpião-marron, os pedipalpos e patas desses animais apresentam manchas escuras. Já o Tityus stigmurus, de coloração amarelo-escuro, apresenta um triângulo negro no cefalotórax, uma faixa escura longitudinal mediana e manchas laterais escuras nos tergitos. Essa espécie também mede cerca de 6 a 7 cm e está presente somente na região nordeste do Brasil. Por sua vez, a espécie Tityus cambridgei, presente somente na região amazônica, possui coloração do corpo, patas e pedipalpos quase negra e mede aproximadamente 8,5 cm. Tanto Tityus stigmurus como a espécie Tityus cambridgei são vulgarmente chamados de escorpião-preto. Finalmente, a espécie Tityus metuendus possui coloração do corpo vermelho-escuro, quase negro, com manchas avermelhadas no dorso. As patas contêm manchas amareladas e o metasoma apresenta um espessamento no 4° e 5° artículos. O indivíduo adulto dessa espécie também mede por volta de 6 a 7 cm de comprimento.

Habitat dos Escorpiões

Os escorpiões geralmente possuem hábitos noturnos e vivem sob cascas de árvores, pedras, fendas de rochas ou buracos no solo, onde descansam e protegem-se dos seus predadores. A maioria das espécies vive no ambiente terrestre como florestas, pastagens ou desertos, porém, algumas vivem em cavernas, zonas entremarés, sobre as árvores ou associadas às bromélias.

Frequentemente, espécies como escorpião-amarelo e escorpião-marrom coexistem com a sociedade humana e causam acidentes escorpiônicos.

Assim, no ambiente doméstico habitam lugares escuros e úmidos, como armários, guarda-roupas, debaixo de móveis, dentro de vasos e outros lugares que possam oferecer proteção. Além disso, são comuns em construções onde se abrigam em acúmulo de entulho, principalmente tijolos de argila, telhas e outros.

Ciclo de Vida dos Escorpiões

A corte de acasalamento dos escorpiões é complexa, porque envolve uma dança nupcial que pode durar algumas horas. Inicialmente, o macho prende os pedipalpos da fêmea com seus pedipalpos e, juntos caminham no ambiente. Depois, o macho conduz a fêmea até a região onde está depositado seu espermatóforo. O espermatóforo é um órgão que consiste de uma alavanca, haste, aparato de ejeção e um reservatório de esperma que o macho deposita no solo.

entretanto em Tityus serrulatus a reprodução é assexuada, ou seja, os espermatozóides de um macho não são necessários para que a fêmea deixe descendentes. Esse processo é denominado partenogênese, nele os ovos desenvolvem-se a partir de uma célula reprodutiva capaz de repetir exatamente o código genético da fêmea. Inclusive, nessa espécie, raramente observa-se um indivíduo macho na população.

Os escorpiões são invertebrados vivíparos (o embrião se desenvolve dentro do corpo da fêmea) e podem gerar de 1 a 95 indivíduos por estação reprodutiva dependendo da espécie. Quando nascem, os filhotes apresentam coloração branca, possuem poucos milímetros de comprimento e, imediatamente, rastejam sobre o dorso da mãe onde permanecem de uma a quatro semanas. Em seguida, acontece a primeira ecdise (muda) e gradualmente os filhotes abandonam o dorso e passam a obter seu próprio alimento. Entretanto, a maturidade sexual só ocorre posteriormente, por volta dos 6 meses de vida, e o desenvolvimento completo do indivíduo pode levar mais de um ano.

Acidentes Causados pelos Escorpiões

Acidente escorpiônico ou escorpionismo é o quadro de envenenamento caracterizado pela picada de escorpiões através de seu aparelho inoculador, conhecido como ferrão. Do mesmo modo que em vários outros locais do mundo, o acidente escorpiônico no Brasil apresenta-se como um atual problema de saúde pública, não só pela sua grande incidência em determinadas regiões, como pela sua potencialidade em ocasionar quadros graves, às vezes fatais. Dados do Ministério da Saúde indicam que a ocorrência desse quadro tem se tornado mais freqüente nos últimos anos, sendo que suas notificações elevaram-se de 18 mil casos em 2001 para mais de 36 mil em 2006, com incidência anual de 16 casos/100.000 habitantes.

Grande parte dos casos ocorre em ambiente predominantemente urbano, com aumento sazonal no verão devido às chuvas e ao calor. Dados do Ministério de Saúde de 2006 revelam que as regiões mais atingidas com acidentes escorpiônicos são Nordeste e Sudeste, totalizando 18.608 e 15.382 casos, respectivamente. Dentre os estados com maior número de notificações são Minas Gerais (9.875), Pernambuco (6.855), Bahia (6.003), São Paulo (4.512) e Alagoas (2.586). Grande parte dos casos de escorpionismo não causa efeito maligno, sendo sua letalidade em torno de 0,076%. Os casos de óbitos também seguem o mesmo padrão de incidência, ou seja, concentram-se nas regiões Nordeste (41%) e Sudeste (38%), de um total de 29 óbitos no Brasil em 2006. Os óbitos têm sido associados, com maior freqüência, a acidentes causados por T. serrulatus, ocorrendo mais comumente em crianças menores de 14 anos que receberam atendimento após 6 horas ou mais da picada.

Devido ao seu alojamento em tijolos, telhas, troncos, entulhos e pedras, os acidentes com escorpião atingem com maior freqüência trabalhadores da construção civil, bem como agricultores durante o manuseio de hortaliças.

Na totalidade dos acidentes, os escorpiões com importância médica no Brasil são representados pelo gênero Tityus, com várias espécies descritas. O T. serrulatus (escorpião-amarelo) representa a espécie de maior preocupação em função do maior potencial de gravidade de seu envenenamento e pela expansão de sua distribuição geográfica no país. Outras espécies de escorpiões também fazem parte da lista de importância médica, tais como T. bahiensis (escorpião-marrom), T. stigmuruT. cambridgei (escorpião-preto) e o T. metuendus.

Como resultado dessa mistura de componentes e manifestações clínicas, a literatura classifica os acidentes escorpiônicos como manifestações locais e manifestações sistêmicas. No primeiro caso, a dor é no local da picada (comum em acidentes com escorpiões), e ocorre imediatamente após o acidente, podendo ser discreta ou até mesmo em forma de agulhadas e queimação. Juntamente com a dor local, ocorre também a parestesia (sensações simultâneas de calor, frio, pressão e formigamento), podendo irradiar-se para o todo o membro atingido.

Já as manifestações sistêmicas caracterizam-se por desordens em diversos sistemas de nosso organismo. Entre elas, podem-se citar as manifestações:

Gerais:
sudorese profusa e alteração da temperatura;

Digestivas:
náuseas, vômitos, hipersalivação e, mais raramente, dor abdominal e diarréia;

Cardiovasculares:
arritmias cardíacas, hipertensão ou hipotensão arterial, insuficiência cardíaca congestiva e choque;

Respiratórias:
falta de ar, respiração acelerada e edema pulmonar agudo;

Neurológicas:
agitação, dor de cabeça, sonolência, confusão mental e tremores.

De uma forma geral, os acidentes podem ser classificados em 3 categorias quanto a sua gravidade, de acordo com suas manifestações. Os acidentes podem receber a seguinte classificação:

Leves:
apresentam apenas dor no local da picada e, às vezes, parestesia.

Moderados:
caracterizam-se por dor intensa no local da picada e manifestações sistêmica do tipo sudorese discreta, náuseas, vômitos ocasionais, respiração e freqüência cardíaca aceleradas e hipertensão leve.

Graves:
além dos sinais e sintomas já mencionados, apresentam uma ou mais manifestações como sudorese profusa, vômitos, salivação excessiva, alternância de agitação com estado de depressão física e emocional, freqüência cardíaca acelerada, edema pulmonar, choque, convulsões e coma. Os óbitos estão relacionados a complicações como edema pulmonar agudo e choque.

A gravidade também leva em consideração fatores como a espécie e tamanho do escorpião, a quantidade de veneno inoculado, a massa corporal do acidentado, se individuo adulto ou criança, geralmente os casos mais graves estão associados as crianças, e a sensibilidade do paciente ao veneno.

No Brasil, os acidentes por Tityus serrulatus são mais graves que os produzidos por outras espécies de Tityus. As manifestações variam desde locais, podendo ser acompanhadas também pelas sistêmicas.

No geral, o envenenamento escorpiônico determina alterações locais e sistêmicas, decorrentes da estimulação do sistema nervoso. O quadro clínico inicia-se com dor local imediata com intensidade variável, eritema e sudorese ao redor da picada. Na maioria dos casos, o quadro tem uma boa evolução, porém crianças, principalmente abaixo de 6-7 anos, podem apresentar manifestações mais graves nas primeiras 2-3 horas. Por tal motivo, é que se aconselha o rápido atendimento em unidades de saúde para as devidas condutas médicas.

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